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02 maio 2013

O equívoco das técnicas ou como não ter a menor idéia do que está acontecendo no processo psicoterapêutico



Todo mundo quer "técnicas". Frequentemente ouço de estudantes e profissionais de Psicologia o relato acerca do descobrimento de uma "nova técnica" ou uma "técnica poderosa" para usarem/aplicarem com seus pacientes em psicoterapia. 

Cursos que oferecem um sem número de técnicas, interessantes, criativas e sedutoras, costumam fazer muito sucesso, ter suas vagas totalmente preenchidas e criar uma avalanche de pessoas "querendo mais".

Ou seja, temos alunos felizes e professores idem.

Mas qual é a grande questão que se coloca?

O que costuma ficar totalmente esquecido é o lugar e o papel das técnicas dentro do processo terapêutico  Lugar? Papel? Mas as técnicas não são em si a essência do processo terapêutico? Nào, não são. E quando falamos de Gestalt-Terapia, não são MESMO.

Em postagem anterior, falamos do papel da técnica dentro de uma metodologia de trabalho, embasada em uma sólida visão de homem e uma clara compreensão de seus processos de saúde e adoecimento.

Isso nos mostra que as técnicas são pequenas partes de uma totalidade que as transcende e que seu uso (e eficácia) está sempre em função da compreensão dessa totalidade.

Partindo disso, o que vemos acontecer frequentemente? Como já disse, todo mundo quer técnicas!!! E por que motivo? Creio que saber muitas técnicas que podem ser aplicadas ao paciente na psicoterapia é a melhor forma do estudante/profissional ter a ilusão de que "sabe" e, principalmente, de que está fazendo algo. Ou seja, dá uma sensação de competência e de estar "mostrando serviço".

Mas será que todos sabem o que estão fazendo? Será que todos sabem responder perguntas básicas e fundamentais do tipo:

PARA QUE estou propondo isso agora, para essa pessoa, nessa relação?

EM QUE que isso está facilitando o processo de resgate de saúde para essa pessoa?

COMO isso se insere no contexto da história de vida dessa pessoa, de suas formas  habituais adoecidas e suas possibilidades relacionais nesse momento?

Creio que se não conseguirmos responder claramente a essas perguntas, para CADA PACIENTE, a cada momento do processo, certamente não temos a menor idéia do que está se passando ali e a psicoterapia vira então uma "terra de ninguém" onde vamos "aplicando técnicas" e vendo o que acontece  ou nos transformamos em meros técnicos, nos retirando da relação e do campo, acreditando na falácia de que não participamos nem influenciamos o que acontece ali.

Nos tornamos então, profissionais "consertadores" de pessoas, com o agravante, particularmente se nos chamamos gestalt-terapeutas, de acreditar piamente que estamos fazendo tudo em prol do paciente.

Nesse ponto, a congruência com a abordagem que escolhemos para trabalhar ( e ter uma abordagem!!)  é fundamental para salvaguardar a qualidade do processo terapêutico. Uma abordagem como a TCC, por exemplo,  com sua visão de ser humano e de psicoterapia, se harmoniza de forma mais congruente com a aprendizagem e uso de técnicas do que a Gestalt-Terapia.

Em Gestalt-Terapia a primazia orientadora do processo é a RELAÇÃO e o que acontece no momento presente do encontro entre paciente e psicoterapeuta, da forma que acontece e do jeito que o paciente configura e aponta.

Se trazemos técnicas a priori, porque lemos num livro e achamos "perfeitas" ou porque fizemos um curso no fim de semana sobre técnicas maravilhosas e "profundas" , estamos certamente nos sobrepondo a experiencia vivida pelo paciente, dando um rumo totalmente nosso para a sessão e impedindo-o de trazer o que ele quer, o que ele precisa trazer, da forma como quer e pode trazer.

Ou seja, recheamos a sessão de "exercicios", lotamos a sala com um sem número de materiais e objetos sedutores, apresentamos uma ou mais "novidades" a cada sessão. sem ouvir e compreender o que essa pessoa precisa e como ela pode resgatar sua saúde e criar formas mais satisfatórias de estar no mundo.

Ao priorizarmos as técnicas em detrimento do estudo e compreensão de uma visão de homem e de uma metodologia congruente dentro de uma abordagem, nos tornamos meros aplicadores de fórmulas, que nem sempre se mostram tão magicas quanto no livro ou no curso, uma vez que o principal está sendo esquecido.

Investir na formação profissional é um compromisso do psicoterapeuta. Porém, é fundamental que não nos deixemos seduzir pelo pragmatismo do aprender algo fácil  que pode ser replicado com todos os pacientes, e esquecer que a verdadeira sabedoria terapêutica consiste em poder utilizar tudo isso no momento em que o paciente precisa de fato.

Voltamos então as perguntas que não devem calar:

PARA QUE estou propondo isso agora, para essa pessoa, nessa relação?


EM QUE que isso está facilitando o processo de resgate de saúde para essa pessoa?

COMO isso se insere no contexto da história de vida dessa pessoa, de suas formas  habituais adoecidas e suas possibilidades relacionais nesse momento?

Saber responde-las demanda muito investimento do psicoterapeuta. Demanda a adesão e o estudo profundo de uma abordagem de trabalho, demanda supervisão onde a possibilidade do olhar do outro sobre o que fazemos nos faz perceber o que não nos damos conta, demanda psicoterapia para que não façamos de nosso trabalho o depositário de nossas próprias interrupções e dificuldades.

Tudo isso não se consegue apenas nos livros ou em cursos rápidos e milagrosos.

Conseguimos com trabalho, investimento e compromisso. Temos uma responsabilidade. Precisamos honra-la.

Fiquem espertos para as propostas fáceis! Vocês querem técnicas? Certifiquem-se se vocês sabem de fato o que estão fazendo!

12 comentários:

  1. Adorei esse texto! Acho que isso deveria ser mais bem trabalhado na formação do Psicólogo!

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  2. Grata, Priscila. Caso você o ache interessante, indique e compartilhe com outros profissionais!! Beijos!

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  3. Excelente texto, de fato o cliente e a relação terapêutica antes da técnica.

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  4. Excelente texto, de fato o cliente e a relação terapêutica antes da técnica.

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  5. Texto indispensável. Já postei no grupo de formação de GTA aqui em Aracaju/SE.

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    1. Obrigada pelo reconhecimento, Paula! E se voce acha que pode ser util para outras pessoas, compartilhe sim! ABraço!

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  6. Texto indispensável. Já postei no grupo de formação de GTA aqui em Aracaju/SE.

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  7. Texto MARAVILHOSO , ALTAMENTE ESCLARECEDOR , MUITO BOM MESMO !!!!

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  8. Texto incrível que nos leva a reflexão!

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    1. Grata, Kate! Esse é o objetivo: nos fazer refletir! Que bom que você gostou! abraço

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  9. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

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