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27 maio 2011

A metodologia clinica em GT com crianças: o psicoterapeuta em ação

O método de abordagem do ser humano utilizado pela Gestalt-terapia é o método fenomenológico, que se caracteriza pelo uso de uma linguagem descritiva, que se opõe a uma linguagem interpretativa e a uma linguagem do tipo prescritiva.
 Estou denominando de linguagem interpretativa aquela que concede um significado para o material  trazido pela criança, estabelecido a partir de um conhecimento  teórico a priori, realizando assim uma interpretação daquilo que a criança diz ou apresenta através do uso que faz dos recursos lúdicos.
Em uma linguagem prescritiva, o psicoterapeuta determina e estabelece formas específicas de uso dos recursos lúdicos pela criança de forma que ela possa resolver aquilo que ela traz para o espaço terapêutico como um problema.
Já o método descritivo da Gestalt-Terapia possibilita que a criança, através das intervenções descritivas do psicoterapeuta, construa gradativamente o significado do material que traz para a sessão terapêutica, sem a interferência de qualquer a priori do terapeuta, seja ele de caráter teórico ou oriundo de seus próprios valores.
Cabe assinalar que quando nos referimos ao método fenomenológico da Gestalt-Terapia como um método descritivo, não estamos reduzindo a atuação do psicoterapeuta a técnica de reflexão conforme nos é apresentada por Axline (1984) onde o psicoterapeuta somente descreve aquilo que a criança diz ou faz ao longo da sessão.
Ao caracterizarmos o método fenomenológico como descritivo estamos nos referindo não só as intervenções puramente descritivas do material trazido pela criança como também as intervenções do psicoterapeuta na forma de perguntas ou propostas que funcionam como um “convite” para a criança descrever sua experiência e, com isso, expandir suas fronteiras e alcançar novos significados para aquilo que foi descrito inicialmente.
Nesse aspecto, ao compararmos as duas abordagens observamos um papel mais ativo do psicoterapeuta de abordagem gestáltica que, sem abandonar o caráter descritivo da intervenção, fomenta um desenvolvimento maior do material trazido pela criança.
O processo terapêutico se desenvolve com a utilização do método fenomenológico, desdobrado em três  níveis de intervenção:  descrição, elaboração e identificação. 
É importante ressaltar que não estamos trabalhando com a noção de fases ou estádios que obrigatoriamente aconteçam dessa forma e nessa ordem. Um psicoterapeuta pode em uma sessão passar pelos três níveis; num outro momento ou com outra criança pode levar todo o processo terapêutico para percorrer esses níveis; em outras situações, um processo terapêutico pode chegar ao fim sem que trabalhemos dentro do nível da identificação.  
O nível da descrição é o nível mais básico de trabalho e provavelmente aquele em que começamos com  a grande maioria das crianças que vem a psicoterapia. Estabelecer uma comunicação no nível da descrição é a única possibilidade que a criança fornece ao psicoterapeuta inicialmente; isso significa que o psicoterapeuta basicamente descreve seu comportamento, realiza na medida do possível alguns questionamentos ao longo das brincadeiras, e solicita que ela descreva suas produções.
Não é raro permanecermos nesse nível durante muito tempo da psicoterapia e, isso não é bom ou ruim, somente sinaliza aquilo que o cliente pode num determinado momento.
Ao que tudo indica,  quanto mais comprometida a criança maior sua dificuldade de ultrapassar a descrição pura e simples, pois seus mecanismos de evitação de contato costumam ser mais elaborados e suas funções de contato mais distorcidas.
Um exemplo típico da criança que só permite que o psicoterapeuta trabalhe na descrição é aquela que ao ser solicitada que comente uma produção sua, a descreve com meia dúzia de palavras, quando a descreve, e passa logo para outra atividade ou responde a algum questionamento com “não sei”, ou não aceita nenhuma proposta do psicoterapeuta ou ainda faz de conta que não ouviu ou ainda profere a frase bastante conhecida dos psicoterapeutas de crianças: “vamos brincar de outra coisa?”.
Todos esses comportamentos sinalizam para o psicoterapeuta a presença de  uma rígida fronteira de contato que deve ser respeitada, embora não deva ser deixada de lado. Isso significa que sempre que nos pegarmos insistindo em algo com uma criança em psicoterapia é sinal de que estamos desrespeitando sua  sinalização de fronteira; costumamos afirmar que as crianças sempre nos mostram quando parar, nós é que muitas vezes não conseguimos perceber tais sinais.
Por outro lado, respeitar suas fronteiras não significa deixar de tentar expandi-las, se acomodando aquém da fronteira da criança e transformando a psicoterapia num espaço de fortalecimento e consolidação da evitação do contato.
O movimento com a criança é sempre de vai e vem; no que tocamos na fronteira e recebemos um sinal positivo, vamos  um pouquinho mais adiante; se não há resistência tentamos mais um pouquinho e assim por diante; se tocarmos na fronteira e o sinal for negativo, recuamos e voltamos depois; se o sinal continua negativo, novamente recuamos para voltar num momento posterior, e assim vamos até poder avançar um pouquinho mais.
É importante assinalar que o fato de uma criança não permitir que o psicoterapeuta saia do nível da descrição em seu processo terapêutico não significa que “a terapia não está andando” ou seja, que o psicoterapeuta é incompetente e/ou a criança não está sendo beneficiada.
È muito surpreendente e não muito incomum verificar, através do acompanhamento dos pais ou de uma visita à escola, que a criança vem apresentando uma série de  transformações em sua forma de estar e se relacionar no mundo, assim como se referindo de forma positiva e investida ao processo terapêutico, embora o psicoterapeuta muitas vezes tenha a impressão de que nada está acontecendo ou que não há possibilidade de transformação uma vez que a criança “não entra” em nenhuma de suas propostas e parece não estar ouvindo suas  intervenções.
Por outro lado, é obvio que se temos essa impressão e os demais elementos do campo a corroboram, seria fundamental uma profunda avaliação de nossa compreensão diagnóstica e da natureza da relação que estamos travando tanto com a criança quanto com seus responsáveis, bem como da pertinência de nossas intervenções.
Continuaremos na proxima postagem, ok: Deixem seus comentários, duvidas e reflexões!!!

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