Uma outra forma de incluir os responsáveis no processo terapêutico da criança, é o que vamos denominar de sessões conjuntas. Do mesmo modo que o acompanhamento realizado através de sessões com o psicoterapeuta e os responsáveis, elas acontecerão de acordo com a demanda dentro do processo terapêutico.
Vamos dar o nome de sessões conjuntas às sessões realizadas em algum momento do processo terapêutico com a presença da criança e um ou mais de seus responsáveis bem como de demais membros da família que possam ser significativos para a criança naquele momento.
Essa participação dá-se a partir de um “convite” realizado pela criança com o auxílio do psicoterapeuta, que pode ou não ser aceito, e que consiste em acompanha-la em uma de suas sessões de psicoterapia. Os níveis de intervenção priorizados nas entrevistas conjuntas são a facilitação da comunicação entre os membros, a promoção de awareness e a expansão de fronteiras tanto da criança quanto dos responsáveis.
Em outras situações, quando entendemos que o processo terapêutico pode ser beneficiado com a participação direta dos membros da família, realizamos sessões com a presença de todos. Estas sessões, ao longo do processo terapêutico, costumam ser muito esclarecedoras a respeito de como a psicoterapia da criança está afetando a dinâmica auto-reguladora da família, que elementos novos emergiram no grupo familiar para fazer frente às mudanças da criança, e o quanto eles estão sendo facilitadores ou não.
No momento do término da psicoterapia, é fundamental que o trabalho se dê concomitantemente com a criança e seus responsáveis, ou seja, na medida em que o término pode começar a ser enunciado, precisamos introduzir essa questão no acompanhamento dos responsáveis. Em alguns momentos, eles trazem tal questão para o acompanhamento quase que ao mesmo tempo em que a criança o faz em suas sessões.
Outras vezes, ao falarmos de término, logo percebemos que vamos ter mais trabalho com eles do que propriamente com a criança. Muitos ficam inseguros a respeito de seus próprios recursos para lidar com eventuais dificuldades da criança em um momento posterior ou receiam que ela ainda não tenha condições de enfrentar o mundo sem o suporte da psicoterapia.
Não é raro, após realizarmos a sessão final com a criança, encontrarmos ainda com os responsáveis duas ou três vezes até finalizarmos o processo terapêutico. De modo geral, sempre realizamos uma sessão de fechamento com eles após a sessão final com a criança. No entanto, nem sempre uma sessão é suficiente para trabalhar todas as ansiedades, fantasias e expectativas que se encontram em jogo.
Quanto à possibilidade de trabalharmos com uma criança sem o acompanhamento da família ou com uma participação ínfima de um ou mais de seus membros, acreditamos que em alguns casos é possível, embora muitas vezes seja frustrante para o psicoterapeuta e insuficiente para a criança.
Algumas configurações familiares encontram-se tão cristalizadas e o lugar ocupado pela criança tão sedimentado que a criança, sozinha, não é capaz de confrontar tal organização. Nesse ponto é que o trabalho com os responsáveis tem a sua justificativa, pois é o que, vai possibilitar que a criança tenha o seu lugar “liberado” nessa configuração e assim possa realizar outros ajustamentos criativos em sua interação no mundo.
De qualquer forma, entendemos que a psicoterapia, ainda que sem a “colaboração” da família ou interrompida precocemente, representa um registro importante na vida da criança, pois é um espaço único e, muitas vezes, um tipo de relação nunca experimentada por ela, nem antes e nem depois. Ter a referência de que existe a possibilidade de se estabelecer uma relação onde se é respeitada, aceita, confirmada, ouvida, acolhida e levada em consideração, pode ser decisivo na vida posterior de muitas delas.
Ainda que seus contextos se mostrem adversos, ainda que seus pais jamais tornem-se facilitadores e acolhedores, ainda que ela encontre em seu caminho muitas pessoas que a decepcionem, acreditamos firmemente que saber, a partir da experiência na relação terapêutica, que existem outras formas de relacionar-se e que podem existir pessoas em quem confiar, pode fazer uma pessoa encarar suas dificuldades de forma diferente.