O que você quer encontrar?

Compartilhe no Twitter!

Traduza essa página !!

07 março 2011

Aceitação em GT com crianças: fácil de enunciar, dificil de experimentar...


Geralmente a criança é trazida à psicoterapia porque os adultos querem modificá-la.

Todos esperam que ela seja mais isso ou aquilo, ou deixe de ser assim ou assado, ou venha a ser de uma forma diferente daquela que ela está apresentando no momento.

Portanto, uma das sensações que a criança certamente vem experimentando é a de não ser aceita.

Tal experiência costuma trazer muito sofrimento, uma vez que para identificar, aceitar e lidar com seus sentimentos e necessidades, ela precisa da aceitação, permissão e ajuda do meio.

A aceitação  do psicoterapeuta parece ser de importância fundamental para o processo, já que este será um dos grandes diferenciais da relação terapêutica face a outras relações estabelecidas pela criança.

O caráter terapêutico da aceitação foi amplamente descrito por Rogers e Axline,  e desenvolvido na Gestalt-Terapia, conforme apontado em outro post, sob a forma da Teoria Paradoxal da Mudança.

Ela sublinha que mudar, não é tentar vir a ser algo diferente do que somos, mas exatamente aceitar aquilo que podemos ser a cada momento, com nossos limites e possibilidades.

A aceitação permitiria uma maior consciencia a respeito desses limites e possibilidades, o que por si só já seria uma mudança, colocando-nos em uma posição mais confortável para escolher o que fazer.

A aceitação da criança como um todo, com todas as suas características, por parte do psicoterapeuta é crucial para que ela possa também aceitar a si mesma.

Somente no momento em que ela puder se perceber aceita sem restrições, independente do que ela pense, sinta ou faça, é que ela vai se permitir expressar, examinar e apropriar-se de todos os seus sentimentos e necessidades, sem precisar utilizar  mecanismos evitativos.

A aceitação também é uma importante ferramenta terapêutica para integrar polaridades. Se a criança não puder aceitar o sentimento ou característica que ela tenta jogar fora, negar, disfarçar ou engolir, ela jamais poderá integrar aquilo que existe de positivo e funcional em tal sentimento ou característica.

Vale lembrar que, segundo nossa concepção holística de ser humano, nenhum sentimento ou característica é em si bom ou ruim; sua presença em determinados contextos, sua intensidade, sua freqüência e seu uso é que vão apontar uma maior ou menor funcionalidade, trazendo ou não benefícios para a criança.

O medo pode ser extremamente paralisante, mas também é protetor; a raiva pode ser muito destrutiva, mas também pode ser uma mola propulsora para a ação e construção; a vergonha pode ser devastadora, mas também ajuda a nos comportar dentro de parâmetros de adequação em vários contextos.

Ajudar uma criança a aceitar sua raiva, por exemplo, permite que ela possa expressá-la de outras formas que não seja através de violentos ataques físicos às pessoas que ama, ou através de ataques a si mesma com doenças repetidas.

 É tarefa da psicoterapia resgatar os sentimentos não aceitos da criança de forma a poder integrá-los ao seu ser total e, com isso, ajudá-la a utilizá-los de formas mais congruentes com suas necessidades em cada um dos contextos dos quais faz parte.

O psicoterapeuta deve estabelecer um clima de aceitação no seu relacionamento com a criança de forma que ela sinta-se livre para expressar por completo seus sentimentos. Essa postura depende da expressão verbal dele, mas vai bem mais longe do que isso.

Constatamos que vivenciar a aceitação  não é uma tarefa fácil. A atitude do psicoterapeuta, com sua expressão facial, seu tom de voz e seus gestos,assim como as palavra,s são fundamentais para que a criança compreenda que está num espaço onde é possível experienciar inúmeras situações diferentes das quais ela está acostumada.

Falar em aceitação com certeza é mais fácil do que vivenciá-la. O que dizer das crianças que não correspondem às expectativas do psicoterapeuta? Como aceitar as que ficam em silêncio se ele quer preenchê-lo com perguntas e propostas? Como aceitar as que não o solicitam, se ele mesmo sente-se abandonado? Como aceitar as que se recusam a entrar sem a mãe no espaço terapêutico, se ele sente-se inseguro para desenvolver seu trabalho diante da mãe? Como aceitar as que desafiam, as que gritam, as que tentam destruir o espaço e machucá-lo, se ele sente-se pessoalmente atingido?

Essas e inúmeras outras situações mostram-nos que o processo terapêutico com crianças pode ser extremamente difícil e os sentimentos que emergem na pessoa do profissional a partir dessas situações podem ameaçar sua aceitação pela criança e sua disponibilidade para acompanhá-la e permitir que ela experiencie todos os seus sentimentos.

Por isso, é fundamental que no processo de construção do psicoterapeuta infantil haja um espaço perene para psicoterapia pessoal, supervisão, discussão e troca.

Definitivamente, não é um trabalho fácil. Que tal compartilharmos nossas dificuldades nesses quesitos?? Onde estão meus 14 seguidores???

No aguardo...rsrsrsrs

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é muito importante! Deixe aqui suas impressões e duvidas!

Qual é o seu maior desafio como psicoterapeutas de crianças?