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30 março 2011

Relações pais e filhos e a logica do consumo: questões contemporaneas atravessando a clinica psicoterapeutica com crianças e adolescentes

 
 

A prática clinica com crianças e suas respectivas famílias, têm revelado um número crescente de dificuldades que emergem no seio das relações familiares e que, sob nosso ponto de vista, parecem ter como elementos decisivos questões típicas do que o sociólogo Zygmunt Bauman  denomina de “mundo liquido”, onde a preocupação exclusiva com a sobrevivência e a satisfação, não deixa espaço para indagações sobre qualquer outra coisa senão ao que pode ser consumido e degustado instantaneamente e rapidamente descartado e substituído por outra coisa.


Segundo o mesmo autor, a “vida liquida” é uma vida de consumo. Projeta o mundo e tudo que nele existe como objetos de consumo, que como tais, perdem a utilidade, o viço, a atração, o poder de sedução e o valor durante o período em que são usados.


Numa sociedade assim, qualquer busca existencial, e principalmente a busca da auto-estima, da felicidade e da satisfação nas relações, exige a mediação do mercado.


É um mundo feito de mercadorias – objetos julgados, apreciados ou rejeitados de acordo com a satisfação que trazem aos consumidores.


 É esperado que sejam fáceis de usar, que provoquem satisfação instantânea e que sejam amigáveis ao usuário, exigindo pouco ou nenhum esforço da parte deste.


Se deixarem de cumprir essa promessa, se a satisfação não for atingida ou for menor que a esperada, voltarão à loja com a expectativa de receber o dinheiro de volta ou de conseguir um substituto conveniente.

O objeto que provocou desagrado é geralmente descartado. Os atos de consumo têm fins claros, durando apenas até se concretizar e nem um minuto a mais, porém o mesmo não pode ser dito das interações humanas, já que cada encontro deixa para trás um sedimento de vínculo humano, e esse sedimento se torna mais espesso com o tempo, à medida que se enriquece com as memórias do convívio. 

Cada encontro é simultaneamente um momento de conclusão e um recomeço – a interação não tem um “fim natural”. O fim só pode ser obtido artificialmente, e está longe se ser obvio quem deve decidir que o fim chegou, já que numa interação humana, ambos os lados são ao mesmo tempo consumidores e objetos de consumo.

É nesse mundo e sob essa lógica que as crianças nascem; é nesse mundo que elas crescem e é esse o mundo apresentado pelos adultos que as cercam.

Uma vez que entendemos ser este o cenário de nossa vida contemporânea nas grandes cidades, constatamos em uma série de experiências vividas em nosso cotidiano, que adultos mergulhados numa lógica consumista, apresentarão o mundo para seus filhos dentro dessa lógica e tenderão a tratá-los também a partir da mesma lógica, “liquidificando” as relações, transformando a troca relacional em troca material e substituindo laços de afeto, doação, compromisso e cuidado por ofertas de bens de consumo que trazem satisfação imediata e podem ser indefinidamente descartados e substituídos por outros.

Inúmeras vezes por dia, as crianças são bombardeadas por sugestões de que precisam deste ou daquele produto, e nas duas ultimas décadas, o mercado infantil se expandiu enormemente, tanto em termos de gastos diretos quando de sua influência nas compras feitas pelos pais. 

Em nossa experiência clinica, constatamos que as crianças realmente são vistas pelos pais como “selecionadores conscientes”, donas de um conhecimento de que eles carecem, qual seja o conhecimento do que é atualmente in e do que é out em termos de moda. 

Por essa razão, as crianças são cada vez mais consultadas quando os pais têm de tomar uma decisão a respeito de compras, uma vez que estes não confiam mais em seu próprio julgamento sobre “o que é bom para o meu filho” e, assim, em suas próprias escolhas. 

 Perguntamo-nos a respeito das possíveis implicações dessa inversão de autoridade e já deparamo-nos na clinica com crianças com algumas implicações significativas desta modalidade relacional no desenvolvimento saudável das crianças.

Para ajustar as crianças a essa nova ordem, a sociedade dos consumidores focaliza seu “reprocessamento da infância” no gerenciamento de espíritos. Segundo o mesmo autor, a infância se transforma numa “preparação para a venda do ser”, a medida que as crianças são treinadas “para ver todos os relacionamentos em termos de mercado” e encarar os outros seres humanos, incluindo os amigos e membros da família, pelo prisma das percepções e avaliações geradas pelo mercado.

Seguir tais exigências torna-se fundamental para ser o tipo “certo” de pessoa, para serem amadas, valorizadas ou para pertencerem a um determinado grupo, sob pena de sentirem-se inadequadas, deficientes e abaixo do padrão se não puderem atender prontamente a expectativa.

Uma outra questão que podemos levantar, diz respeito às pressões financeiras do um mercado de consumo, que tornaram um único salário insuficiente para sustentar uma família com filhos e, por isso, um grande número de crianças são criadas em família com dupla renda, onde ambos os pais trabalham em tempo integral, passando a maior parte do tempo em que não estão na escola sozinhos ou na companhia de outras crianças, ou ainda na companhia de adultos “cuidadores”, submetidos também a lógica do mercado.

Com isso, percebemos que os vínculos familiares se afrouxam e são ainda mais minados e enfraquecidos pela inversão da autoridade e da estrutura de comando resultante do fato de as crianças terem se tornado especialista em matéria de compras e assumido o direito de tomar decisões a esse respeito, além de que comprar parece ser uma atividade mediadora do contato estabelecido por inúmeras famílias. 

As necessidades infantis são atreladas às “grandes marcas” e a substituição dos vínculos humanos pela lealdade a “marca”, nos parece ter um importante papel na moldagem das expectativas e habilidades existenciais das crianças e suas famílias.

A partir dessas observações, nos perguntamos acerca das possíveis implicações da lógica do consumo no estabelecimento de relações de caráter dialógico no seio das famílias contemporâneas, particularmente no que diz respeito aos vínculos estabelecidos entre pais e filhos. 

Diante desse cenário, qual seria o papel do psicoterapeuta ao intervir nesse processo utilizando a Gestalt-Terapia como abordagem conceitual e metodológica?
 

 Pessoas!!!! Eu tenho algumas possiveis respostas para essa pergunta; porém, eu gostaria de ouvir meus 51 seguidores!!!! Vamos lá, pessoal!!! Eu amo falar, mas não gosto de falar sozinha.....rsrs

 
 Para saber mais sobre as ideias de Bauman:
BAUMAN, Z. Vida Liquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

 



 

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