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05 março 2011

A linguagem do brincar e da fantasia como uma possibilidade de ajustamento criativo


A incrivel e emocionante habilidade das crianças lidarem criativamente com o que se apresenta, mesmo nas condições mais adversas.

Em Gestalt-Terapia, denominamos tal capacidade de auto-regulação organismica representada por uma série de ajustamentos criativos que visam salvaguardar na medida do possivel a integridade fisica e emocional da criança na sua relação com o mundo.




A criança brinca com a realidade e, com isso, dá outra significação ao cotidiano.

Ela cria outros sentidos para os objetos que possuem significados fixados pela cultura dominante, ultrapassando o sentido único atribuído às coisas e nos apontando e lembrando que a verdade é sempre provisória..

Uma caixa de papelão pode ser um carro, uma banheira, um chapéu; um lençol pode ser o mar, uma caverna ou asas de borboleta.

A imaginação da criança cria e transforma ativamente seu mundo subvertendo a ordem estabelecida e pontuando sua diferenciação com relação ao desejo do outro e aos limites situacionais; a fantasia é o canal por onde inúmeras vezes a criança consegue satisfazer suas necessidades independente da permissão do adulto.

Quando ela “faz de conta”, ela expande suas fronteiras para além do ponto em que poderia faze-lo “na realidade”.

Na clinica, nossas intervenções incidem exatamente nessas construções, não como o objetivo de derruba-las ou elimina-las, mas como um ponto de partida para o acesso ao poder criador de cada criança, permitindo que ela possa amplia-lo e usa-lo de formas mais satisfatórias e que não tragam prejuizo a sua vivencia cotidiana, como muitas vezes acaba acontecendo.

A "queixa" trazida pelos responsáveis sempre indica uma ou outra manifestação, tais como "agressividade", "desligamento", "mentiras", "falta de concentração", "ausencia de interesse nos estudos", "medos", etc, que, na nossa concepção, não são nada mais do que uma série de ajustes criativos que tal criança precisou realizar para sobreviver face a situações adversas e relacionamentos dificeis.

O grande desafio da psicoterapia é justamente criar um espaço para a transformação e criação de  formas mais saudaveis, para a criança, de auto-regular-se em sua relação o mundo.

Até que ponto facilitamos esse processo em nosso trabalho e de que forma podemos contribuir para que outros adultos compreendam a linguagem do brincar e da fantasia e, com isso, tenham condições de estabelecer relações mais satisfatórias com as crianças que os cercam?

2 comentários:

  1. Muito interessante falar de ajustamento criativo, pois na minha época de estágio aconteceu que um dos clientes, que tinha 8 anos, usava muito de "mentiras" na sua fala, e coloquei isso na supervisão,até pq mexeu um pouco cmg no que a mentira significa pra mim e de como esse significado velou os meus "olhos" de não conseguir enxergar através dessa mentira. E se tratava mesmo de um ajustamento da criança com o meio que ela fazia parte. Só através da ajuda da supervisão consegui perceber que a realidade daquela criança era tão dura, que ela "precisava" mentir para encarar a realidade, para transformar a sua realidade em algo que ele conseguisse conviver. Muito bom! Adorei o tema!!!

    Mariel Gouveia
    Caruaru - PE

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  2. Ola Mariel

    Seu comentário nos mostra o quanto aquilo que nos é apresentado como "sintoma" é a melhor forma que a criança encontrou para lidar com situaçoes adversas e desafiadoras.
    Assim, ao invés de tentarmos normatiza-la ou educa-la ("ai, ai, ai, é muito feio contar mentira!!!), precisamos encontrar, junto com a criança, a necessidade que está em jogo nesse tipo de comportamento que ela apresenta e facilita-la no sentido de encontrar formas alternativas de lidar com a situação.
    Seja bem vinda!

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