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15 março 2011

Da série "Periclitâncias Típicas em GT com crianças": quando um dos responsáveis não quer participar


Quando existe um responsável que não quer comparecer as sessões iniciais ou de acompanhamento ao longo do processo terapeutico, o psicoterapeuta não vai obrigá-lo ou persuadi-lo a vir; porém, faz parte da sua tarefa propiciar que essa pessoa se posicione claramente a esse respeito, de forma a evitar manipulações, como por exemplo, a mãe que na verdade não quer que o pai venha e diz: “O fulano disse que não vem, que nem adianta contar com ele”, e também, de fazer com que o responsável em questão se responsabilize por sua escolha.
Nesse caso, o psicoterapeuta entra  em contato com o responsável que se nega a comparecer, para que ele possa então se posicionar diretamente a respeito de como gostaria de participar do processo, ainda que seja para reafirmar sua discordância e sua não participação.
De qualquer forma, o psicoterapeuta comunica-lhe que vai iniciar um processo terapeutico com a criança a pedido do outro responsavel e coloca-se à disposição para recebê-lo posteriormente, caso ele reveja sua posição.
O caso do pai que não “pode” comparecer as sessões por excesso de trabalho é quase um clássico. Geralmente, argumentamos com ele a possibilidade de marcarmos um horário alternativo e na medida em que ele recusa todas as possibilidades oferecidas, inclusive a dele mesmo sugerir um horário, precisamos intervir de forma a clarificar efetivamente o que se encontra em jogo, que não parece ser uma questão de poder ou não comparecer, mas uma questão de querer...
 Nesse momento, precisamos assegurar ao pai que embora consideremos importante a sua participação, ele tem o direito de não vir se não quiser, mas que seria importante então que ele assumisse o seu não querer, para que não se perca mais tempo tentando achar um horário em comum que não vai ser encontrado.
Cansamos de repetir que a liberdade de escolha responsável é fundamental para implicar os adultos no processo da criança, pois de forma alguma, em nenhum momento, a pessoa deve participar do processo como se fosse uma dádiva ou um favor para o psicoterapeuta.
Nesse mesmo sentido, o profissional precisa ficar atento para suas próprias motivações na psicoterapia com crianças, para não criar situações em que fique demonstrado que a pessoa mais interessada e motivada no trabalho terapêutico seja ele mesmo.
O interesse e a responsabilidade do psicoterapeuta é fundamental para o processo, mas não podemos esquecer que a demanda é do cliente e é preciso manter-se dessa forma, para que as necessidades contempladas sejam as dele e não as do psicoterapeuta.
Contrariando as expectativas, em inúmeros casos, quando o psicoterapeuta faz o contato direto com o responsável que se recusa a comparecer, ele revê sua posição anterior e marca uma sessão para conversar pessoalmente, e em outros casos, acabam procurando-o posteriormente.
Isso nos alerta para o fato de que, muitas vezes, o que o  responsável que nos procura relata, é distorcido pela sua percepção ou pelo desejo de que este fique realmente de fora, para que o psicoterapeuta não tenha possibilidade de obter um panorama mais amplo do contexto, mas somente aquele que está sendo relatado e da forma que está sendo relatado.
É típico o caso em que a mãe não quer que o pai compareça às sessões, porque não quer que ele diga certas coisas, ou quer apresentar uma única versão da história, ou porque quer falar mal dele, mas não quer que ele fale mal dela.
Porém, não podemos ficar com um pai que só existe no discurso da mãe. É fundamental que evitemos ao máximo que haja intermediários na comunicação do psicoterapeuta com os envolvidos no processo, a fim de eliminar distorções, mal-entendidos e manipulações.
Concluímos então algo óbvio, mas muitas vezes difícil de aceitar: não podemos fazer com que os responsáveis sejam diferentes do que são, pois eles não são outras pessoas.
É fundamental que o profissional trabalhe com a criança a partir do pai que ela tem, e não com o pai que gostaria de ter, ou que o psicoterapeuta considere ideal.
Vamos passar pela vida da criança; não vamos adotá-la, levá-la para casa ou protegê-la de todos os males. Nossa tarefa é ajudá-la a reunir recursos para lidar de forma mais satisfatória com seu contexto e assim ter possibilidades de realizar ajustamentos criativos mais funcionais.
Sendo assim, uma das principais habilidades do psicoterapeuta de crianças é a possibilidade de lidar com a frustração e com a impotência diante de determinadas situações , aprendendo a trabalhar sempre "no limite" de modo a conseguir interferir positivamente na auto regulação da criança e de sua familia, na medida do que é possivel e não do que é desejavel.
Observação: dou o exemplo tipico "do pai que não quer ir", mas obviamente os comentários servem para qualquer um dos responsáveis e para quaisquer tipo de configuração familiar, ok?

2 comentários:

  1. Gostei muito. É uma dificuldade clássica e muito frequente no consultório. Vou compartilhar no facebook.
    Obrigada

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  2. Ola Sabrina!

    Seja bem vinda! Obrigada pelo elogio e volte sempre!

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